Problemas genéricos, soluções específicas

Trabalho desenvolvido no contexto da exposição coletiva "Cartas ao Prefeito", apresentada em julho/agosto de 2016 na Galeria Pivô, São Paulo-SP

São Paulo, 29 de junho 2016

À Prefeitura Municipal de São Paulo

Aos cuidados do(a) novo(a) prefeito(a) municipal

Assunto: Problemas genéricos, soluções específicas

Prezado(a) sr(a),

Durante as últimas duas décadas, a região metropolitana de São Paulo vem experimentando a redução no ritmo de sua expansão territorial e de seu aumento populacional. Grande parte de seu crescimento atual vem ocorrendo por meio do adensamento de territórios previamente urbanizados. O enfrentamento e a transformação das preexistências constituem, portanto, importantes desafios para a construção da cidade contemporânea.

A escassez de áreas disponíveis para a implantação de empreendimentos habitacionais de interesse social bem como de toda sorte de equipamentos, fazem do adensamento e da mistura de usos, ações incontornáveis e oportunas no sentido de agregar valor aos metros quadrados de solo urbano conquistados.

Para enfrentar as imensas demandas, os programas públicos vigentes atualmente em todas as esferas governamentais adotam projetos genéricos e padronizados, que atendem aos interesses comerciais das grandes construtoras e a cálculos políticos imediatistas, mais atentos às planilhas quantitativas que à qualidade dos espaços urbanos produzidos. A escandalosa exposição dos vícios dessa associação, promovida pelas recentes investigações em curso no país, abre hoje uma rara oportunidade de mudança de paradigmas e de adoção de novas práticas.

O princípio industrial da replicação massiva de objetos, quando aplicado à produção de espaços urbanos, só produziu desastres. A necessária industrialização de processos e componentes construtivos não implica na padronização dos espaços edificados.

O espaço habitado é o resultado de relações físicas e sociais específicas, que constituem sua identidade e memória. Soluções genéricas negam, de partida, a possibilidade de diálogo com essa rede de preexistências, inserindo-se alheias a seus entornos.

A justaposição de um conjunto de áreas potencialmente disponíveis, localizadas em diferentes regiões do município, com diversos projetos-padrão utilizados pelo poder público nos últimos anos para a construção de habitação e equipamentos, ilustra a inadequação desses programas à cidade como ela é.

A cidade demanda a especificidade.
A especificidade demanda novas políticas.
Este é o momento de implementá-las.

Atenciosamente,

Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú.