Concurso Público Nacional de Arquitetura Autores: Eduardo Ferroni, Pablo Hereñú e Pedro Sousa. Colaboradores: Tiago Coelho, Madalena Madureira, Luis Gomes e Ricardo Vicente.

CONSTRUÇÃO E NATUREZA

A construção do Complexo do Sistema Fecomércio-RS, Sesc e Senac irá oferecer, no âmbito da cidade de Porto Alegre, uma oportunidade marcante de integração entre a arquitetura e a natureza. A dimensão territorial do lote e a sua situação geográfica junto à várzea do rio Gravataí sugerem uma disposição clara e concisa das novas construções, concentrando as obras ao longo de um único eixo e dispondo dos espaços externos para o manejo da topografia e das águas para contenção das cheias e tratamento dos efluentes.

Concebidas como um conjunto paisagístico e ambiental que assume a escala de um parque urbano, as áreas livres do terreno reconfiguram-se através de uma ação elementar de engenharia: a construção de um dique perimetral que contém as áreas de inundação, conformando um passeio elevado e criando recintos internos protegidos na paisagem que se vinculam aos novos edifícios construídos.  Através da implantação de um sistema de Alagados Artificiais (Wetlands), as amplas áreas de várzea podem transformar-se no filtro natural das águas de reuso, conferindo caráter ambiental aos elementos que definem a paisagem desta obra de escala marcadamente urbana.

PRAÇA – PLATAFORMA: CONSTRUÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA

Implantada linearmente ao longo do eixo Norte-Sul do terreno, a plataforma central articula todo o conjunto de novas construções, concentrando estacionamentos, infra-estruturas prediais e programas de apoio ao longo de quatro pisos acessíveis por rampas a partir da Avenida Fernando Ferrari.  A primeira cobertura situada na cota 6.50m oferece uma praça aberta ao convívio e ao encontro, reunindo os espaços mais públicos do conjunto e estabelecendo um denominador comum entre os seus diversos programas. Esta praça acomoda o acesso ao Centro de Eventos do Sesc, com suas áreas de apoio e acolhimento para o grande público, além das lojas, restaurantes, Memorial, e Biblioteca Central.

Os acessos aos edifícios do Centro Administrativo e do Centro Educacional estão setorizados neste mesmo nível, desdobrando-se em rampa para o segundo nível de acesso junto ao terraço superior (cota 10.50m).

Ao concentrar em linha os principais acessos e elementos estruturadores do conjunto, a Praça-Plataforma funciona como uma rua em seus diversos níveis, provendo desta forma todas as eventuais alterações e acréscimos do programa como uma estrutura aberta.

Ao dispor os acessos em quatro níveis sucessivos interligados por rampas, a Praça-Plataforma possibilita o encurtamento das distâncias verticais e a otimização do uso dos equipamentos de circulação vertical.

Como partido construtivo, este elemento oferece apoio logístico aos demais edifícios do conjunto, sem no entanto interferir com as especificidades construtivas de cada bloco. Suas estruturas são completamente independentes.

DIQUES E ALAGADOS: A CONSTRUÇÃO DE UM PARQUE URBANO

A construção das áreas livres externas caracteriza-se pela implantação de um dique perimetral conformando um passeio elevado contínuo na cota 3.0m, que defende as áreas internas das cheias do rio Gravataí e contribui para balizar os limites do espaço propriamente ocupado pelo conjunto. O manejo da topografia do terreno permite a construção de tanques de acumulação das águas para a criação de um sistema de Alagados Artificiais (Wetlands) que possibilita a filtragem natural sucessiva das águas de reuso utilizadas pelo conjunto, constituindo um sistema integrado de ações paisagísticas e ambientais.

Os espaços criados pelo dique associam-se aos programas dos edifícios do conjunto, criando jardins de caráter específico para cada caso. Para além da simples implantação de um edifício sobre o terreno, propõe-se uma relação de complementaridade intrínseca entre arquitetura e a paisagem, formando um conjunto coeso entre construção e natureza.

De modo a complementar o programa administrativo, cultural e educacional deste complexo, propõe-se a utilização dos espaços externos à maneira de um parque urbano, potencializando-se as atividades promovidas pelo conjunto.