H+F Arquitetos e Apiacás Arquitetos

PREMISSAS

O projeto para a nova sede da unidade Osasco do SESC-SP se baseia na articulação de dois conceitos – FÁBRICA e VARANDA – elaborados a partir da leitura das condicionantes programáticas, históricas e geográficas apresentadas.

FÁBRICA sintetiza o modo como foram abordadas decisões construtivas e espaciais dos grandes volumes do conjunto, marcadas pela simplicidade e austeridade. Simultaneamente, busca estabelecer um vínculo simbólico com o passado fabril que impulsionou o desenvolvimento do município.

VARANDA representa a preocupação em valorizar e tirar partido da geografia do local através de uma organização dos espaços que proporciona o desfrute dos jardins e áreas externas; representa ainda o caráter doméstico e de acolhimento que se procurou conferir às áreas de circulação, estar e encontro.

É na sobreposição desses conceitos aparentemente antagônicos que a essência do projeto se molda.

ESPACIALIDADE

Os espaços foram concebidos de maneira a refletir o caráter generoso e democrático da instituição. Valorizou-se a permeabilidade visual, a amplitude espacial e a presença constante das relações interior-exterior. A disponibilidade ao não programado é outra característica dos espaços projetados. Uma escada pode, por exemplo, se transformar temporariamente em cinema ou teatro informais. O galpão de uso múltiplo pode se converter em espaço de convivência e vice-versa. Galerias de circulação são sempre platéias em potencial, seja de ações culturais específicas, seja da fascinante dinâmica

das atividades cotidianas que um complexo desse porte abriga.

O pátio central serve, ora como paisagem de contemplação, ora como espaço apropriado, através de usos relacionados ao lúdico, ao descanso, ao lazer. A sucessão de lugares que configura vai suavemente galgando a topografia e sugere sua continuidade para além do lote, possibilitando uma eventual integração à concha acústica municipal existente.

INSERÇÃO NA PAISAGEM

A implantação do projeto parte da afirmação de um vazio longitudinal localizado junto ao eixo da drenagem, fundo do vale que caracteriza a paisagem da área. Sua espacialidade é reforçada pela implantação de dois blocos paralelos que resolvem todo o programa solicitado. O Bloco Sul, de menor dimensão, possui dois pavimentos cobertos e se assenta sobre um platô existente no nível 730,50. O Bloco Norte, mais extenso, possui quatro pavimentos escalonados que se acomodam sobre o suave plano inclinado entre a avenida de acesso (nível 725) e a divisa oeste do lote (nível 735). O conjunto apresenta uma configuração horizontal que permite estabelecer conexões com as áreas externas descobertas, planas ou sobre taludes, em diversas cotas, multiplicando o nível térreo. Através dessa operação, edifício e paisagem se coadunam formando um sistema indissociável de lugares e percursos.

CONSTRUÇÃO E AMBIENTE

De um modo geral, a lógica construtiva do projeto parte de soluções simples e austeras. As edificações se configuram por meio da utilização de sistemas convencionais e econômicos. Da mesma maneira foi encarada a questão do desempenho ambiental, onde a eficiência é alcançada através de soluções simples e de baixa sofisticação tecnológica, incorporadas desde o início ao raciocínio arquitetônico.

O Bloco Norte se divide em três corpos com características estruturais distintas. O trecho leste, que abriga entre outros programas o teatro e o auditório, possui estrutura

em concreto armado com vãos da ordem dos 12,5 metros, exceto as coberturas da caixa cênica e da platéia, resolvidas com treliças metálicas. O trecho central abriga os grandes espaços vazios – ginásio esportivo, galpão de uso múltiplo, piscinas cobertas e convivência – e caracteriza-se por pórticos transversais a cada 7,5 metros com vão central de 32,5 metros vencidos por treliças metálicas. Varandas laterais em concreto armado resolvem circulações e acessos. O trecho oeste recebe em sua cobertura o parque aquático ao ar livre e abriga em seu interior áreas técnicas e de estacionamento. Sua estrutura é determinada por uma malha ortogonal de pilares de concreto armado com vãos de 7,5 metros nos dois sentidos.

O Bloco Sul, de menor extensão, abriga o restaurante, o setor de ginástica e atividades físicas e as quadras esportivas externas em sua cobertura. Sua malha estrutural em concreto armado apresenta modulação de 10 metros nos dois sentidos e balanços de 3,5 metros.

O controle da insolação e tratamento das fachadas é realizado por um sistema de elementos cerâmicos que, através de variações de densidade e paginação, se ajustam às especificidades de cada orientação. Esse material é utilizado primordialmente nos níveis de maior proximidade com os usuários do conjunto no intuito de explorar suas qualidades táteis e visuais.

O EQUIPAMENTO E A CIDADE: MOBILIDADE E AÇÃO VIZINHA

A proposta urbana tem como premissa conectar o novo SESC, através das vias a serem requalificadas dentro do raio de aproximação pretendido, aos equipamentos públicos existentes, Estação CPTM / Comandante Sampaio, paradas de ônibus do município, bem como ao plano de mobilidade Ciclo-faixa Cidade de Osasco. Outros equipamentos identificados no raio de ação, como praças e edifícios de serviços, além da Rua Antonio Agu, importante eixo comercial da região, deverão receber o mesmo tratamento para as vias de acesso.

Uma ação singela, em sintonia com o plano de mobilidade já proposto pela prefeitura municipal de Osasco, contempla a inclusão de novas ciclo-faixas e calçadas arborizadas. A ideia é estabelecer um percurso que incentive o caminhar e o uso de bicicletas, tendo como ponto de partida a estação de trem, e deverá se desenvolver conectando os pontos de interesse anteriormente citados, nos diferentes níveis viários, circundantes ao novo equipamento.

A avenida de acesso receberá novo tratamento das bordas ao longo do córrego João Alves. O rebaixamento do canal, estruturado por paredes de gabião, possibilitará a inserção de passeios laterais e ciclo-faixas, além de novas travessias com tratamento paisagístico similar ao proposto para as áreas externas